A
realocação da vila chocolatão ou um êxodo caboclo?
Professor Jose Luiz
Ferreira
Em junho de
2011 a prefeitura de porto alegre realizou a realocação da Vila chocolatão: vários
casebres à beira da Avenida Loureiro da Silva, no centro da cidade. Dentro
desses casebres moravam brasileiros com pouca instrução, na maioria
afro-descendentes. A miséria e a sujeira faziam parte parte dessas duzentas ou
mais famílias que oficialmente eram 181 famílias e que apesar de tudo pareciam
felizes e adaptadas ao papel social que desempenhavam. A transferencia apareceu
ao mundo como modelo de realocação e apoiados por orgãos internacionais.
Parte do
terreno do terreno da antiga favela pertencia ao município e a maioria do
terreno pertence a unoião. O destino do terreno provavelmente servirá como
estacionamento dos orgãos federais do entorno. A nova Chocolatão está situada à
Avenida Protássio alves, 9099, bairro Mario Quintana ou Morro Santana. As casas
são de alvenaria, dois quartos, sala conjugada com a cozinha, banheiro e um pátio
murado. A nova vila é cortada por uma rua asfaltada, iluminada e que atende
pelo nome de Quatro mil e cinquenta.
Até agora
apresentamos aos leitores um modesto apanhado técnico para australianos,
norte-am,ericanos e europeus verem. A partir de agora vamos refletir juntos
sobre a radicalidade humana do projeto. A grande maioria dos moradores da
antiga Vila Chocolatão eram catadores de lixo e vendiam o material a pequenos
depósitos dentro da vila. Hoje no Residencial Nova Chocolatão há um grande galpão
que recebe material da Prefeitura de Porto Alegre, separa e vende. O galpão
pode trabalhar com aproximadamente sessenta pessoas em sua capacidade máxima,
menos de hum quinto da população adulta profissionalmente ativa.
O custo
realocação modelo é paga pelos moradores em contas de água, luz e mensalidades
do imóvel. O transporte para quem precisa se deslocar para o centro da cidade,
também é por conta dos realocados. A última conta de luz ou a primeira da nova
moradia variou entre trinta, sessenta, cem, cento e cinquenta, e até quinhentos
reais para os donos de comércio dentro do residencial nova chocolatão.
Este comentário com certeza não pode ser exportado
nem para a Austrália, nem para Europa, talvez para os Estados unidos que está
ficando mais pobre e mais vulnerável. A verdade é que os governantes responsáveis
pela realocação não foram radicais no que diz respeito ao fator humano, nem
foram competentes na gerencia de projetos habitacionais para afro-descendentes,
pobres, fora do mercado de trabalho e sem o pensamento germânico ou anglo-saxônico
que inspiraram os autores e construtores desse projeto que tem tudo para dar
certo no papel, mas que tem grande dificuldade para se viabilizar entre os
rostos morenos e olhares ingênuos dos novos moradores.
Não quero
terminar essa reflexão sem afirmar que gosto muito de minha casa de alvenaria
com cozinha e banheiro, que gosto do
bairro, do comércio, e que sou negão. Também não poderia deixar de afirmar
minha auto-denominação de excluído por opção. Sinto-me a vontade de trabalhar
para quem eu quero, fazendo coisas que acredito e denunciando coisas que
repudio. Escolhi morar na antiga favela do chocolatão por que me sentia um
excluído com curso universitário, e de fato muiotos de nós seríamos se quiséssemos
ter pensamento próprio e não aceitássemos compartilhar com a desconstrução do
bom-senso.
Em memoria do amigo
Jose Luiz Ferreira professor e morador da Vila Chocolatão.
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