25/06/2009


Para a minha querida NAIR!
Nilton Bueno Fisher

Aos 60 anos teu tempo entre nós terminou, parou e se foi.
Neste dia 5 de junho teu coração parou de tocar a música da vida.
Todos nós - (aqui do Rubem Berta, da Unidade de Reciclagem e bem como os familiares e amigos) - ficamos com um sentimento que só a dor da perda nos fala.
Os jeitos de te chamar transmitiam um recado de afeto:
A velha.
A baixinha.
A tua forma de ser e trabalhar no galpão a gente identificava:
Aquela que picava fumo e tragava seus palheiros
Aquela que trabalhava no pátio e nos vidros (cacos).
A tua presença que circulava no trabalho e nos intervalos:
Era aquela que dizia coisas meio resmungando.
A que tinha senso de humor na roda de colegas
Aquele que era voluntária nas atividades da horta.

Seu corpo, Nair, ensinou muitas coisas para todos nós:
de um corpo que mostrava uma vida de muitas preocupações,
de um corpo que desejava estar no convívio do galpão como forma de resistir ao que a vida exigia,
de um corpo que resistia a se entregar porque precisava continuar vivendo para si e seus filhos.
Seu corpo, Nair, ao se entregar, ao se apresentar ao Templo Sagrado, trazia um mundo de desafios que foram sendo enfrentados ao longo de tua existência. O teu jeito, a tua maneira e as formas que encontrastes para ires superando esses desafios foram sendo IN+CORPORADOS dentro de ti.

Ao te olharmos ao longo desses anos todos de convivência a gente sabia o que estava atrás de um boné que disfarçava uma mancha roxa no rosto. A pele enrugada trazia o sinal dos tempos e as necessidades de cuidados com alimentação e saúde.
Ao te ouvir, ao te escutar, ao prestar atenção em tuas palavras tinha uma estranha compreensão das coisas que te aconteciam. No limite físico da existência tu também encontrava palavras de humor e amor para fazer que as pessoas ao teu redor pudessem ter boas gargalhadas.

Tua passagem entre nós deixa uma mensagem que o autor Rubem Alves sabe bem juntar tua vida VIVIDA com as nossas vidas. Tu nos trouxe também um jeito de olharmos melhor o que temos para enfrentar daqui pra frente.
“Os fracos e pobres esperam o Messias, aquele que, trazendo o Reino de Deus, redime o CORPO dos homens que gemem. Fazer vibrar a melodia que surge dos seus corpos, a nostalgia do seu amor e a fragilidade do seu poder é PROCLAMAR A ESPERANÇA de que, de alguma forma inexplicável, um MESSIAS virá. Messias: o poder do amor em uma pessoa, bem-aventurança de todos aqueles que esperam”(p.54. Rubem Alves).

Nair, fica dentro de cada um de nós e nos represente bem junto ao Pai Celestial.
Agora que estás com ELE por favor, puxa um pallheiro e ao soltar a fumaça... diga junto a ELE algumas palavras para o nosso conforto nesta vida que um dia chegará aí junto contigo.

Prof. Nilton Bueno Fisher.
Junho 2009
Fotografia de Vinicius Lousada