07/10/2008

Profetas da Ecologia
Relatos de uma experiência
Dia 11 de setembro de 2006


por Camila Bernadelli
estudante de arquitetura. UFRGS

Hoje tínhamos marcado uma reunião no profetas para acertarmos sobre a festa do dia 27/09. Fomos eu e o Yan.
Chegamos no galpão, e a reunião já tinha começado, mas quando entramos na sala onde acontecia a reunião, percebemos que o assunto não era a festa.
Estavam presentes na reunião: a Eliane, o Tio Gaudério, a Rose, a irmã da Rose (que não me recordo o nome), a Cíntia, a Ibrair e a Nair (estes do Profetas), o Pedro, o Leonardo do Camp, a Prof Martina da Uniritter, e eu e o Yan da UFRGS.
Entendemos então que o assunto era a relação do pessoal do galpão com a Oficina de Papel Reciclado.
A Prof Martina estava se justificando, dizendo que a produção ainda não estava 100% porque o pessoal não podia treinar tanto quanto ela gostaria, por causa do trabalho com a triagem e as constantes reuniões que vinham acontecendo com o grupo, devido problemas internos, que os equipamentos não estavam 100%, que a prensa ainda não tinha voltado de São Paulo do conserto, (porém a prensa da Ritter estava “quebrando o galho”). Disse também que o trabalho com o papel requer uma certa prática, mas que não era nenhum monstro, que logo, logo, estariam fazendo papéis tão bonitos quanto o do pessoal que havia feito um curso anterior com a professora (material este que ela carrega em uma pasta pra divulgação do trabalho da reciclagem do papel, que fez questão que passássemos e olhássemos novamente), que não havia problema algum em ser mais velho, que aprenderiam igual a qualquer outra pessoa.
O pessoal então sugeriu que se buscassem então pessoas de fora do galpão para participar, que se trouxessem seus familiares e amigos que estivessem interessados. O Pedro sugeriu o que havia sido levantado em uma reunião anterior de que se conseguisse um “fundo” que bancasse algum ou alguns dos trabalhadores que quisessem se aperfeiçoar e quem sabe até encabeçar e organizar a empresa de Reciclagem de Papel. Mas pelo que sentimos a Martina não gostou muito e voltou a insistir no aperfeiçoamento de todos.
Aí a Eliane começou a explicar qual era a situação real com o pessoal do galpão. Eles haviam conversado e além de a partilha ter baixado, havia alguns problemas de espaço físico e também pessoas que realmente não estavam gostando e não queriam continuar a ir pra oficina, porque achavam que não levavam jeito, ou porque se acahvam velhos demais pra aprender, ou porque simplesmente não queriam. Ela pediu então pro pessoal da coordenação do galpão que estava ali falar o que todos já tinham dito, mas que não queriam falar na frente da Prof. Martina, foi quando a Ibrair começou a falar:
“Pra mim isso é coisa pro pessoal mais novo, eu não tenho paciência e nem delicadeza pra fazer isso. Meu marido é inválido, não pode trabalhar, eu é que tenho que sustentar a casa. Eu gosto do que eu faço, gosto de “puxar o lixo”, arrastar bags, é isso que eu sei fazer, eu não tenho delicadeza pra fazer papel.”
Vejo na Ibrair uma mulher sincera, simpática, sempre sorridente, forte com traços fortes, faz o trabalho dos homens, o que a torna uma exceção nos galpões. Ela trabalha arrastando lixo, pegando peso, levantando e abaixando, levantando e abaixando, levantando e abaixando o dia todo. Talvez a Ibrair quando assumiu sua casa, assumiu ser o homem e a mulher, mulher guerreira e pra isso sentiu a necessidade de deixar a delicadeza e feminilidade de lado, num mundo onde elas não têm vez! Ela diz que se sente exausta e ainda por cima suja, e talvez nem se sinta repugnada nesta situação, talvez assim se sinta até mais forte do que outras mulheres pelo fato de sustentar o marido, faz o trabalho de homem no galpão e em casa!
Os outros só diziam a mesma coisa, ou que se sentiam muito velhos, ou sem paciência ou simplesmente não queriam.
Começou-se então a discutir novamente o fato de se ter pelo menos uma pessoa do grupo que quisesse se empenhar mais, mas a Martina colocou que então fossem pelo menos duas pessoas, porque senão um só dominando tudo é complicado, todos concordaram, mas teríamos então que buscar quem pudesse pagar estes dois trabalhadores para que eles pudessem encarar integralmente.
Como estavam discutindo que teria duas pessoas, perguntei para a Cíntia (que era a minha principal esperança, para a oficina de papel – afinal a Eliane já havia me relatado que a Cíntia tinha gostado)se ela achava que se pudesse receber o mesmo que na partilha para fazer o papel, se havia alguém que ela sabia, que gostaria então de ficar. Ela respondeu: “Olha é de se perguntar de novo, mas o que eu to sabendo é que ninguém quer, nem com dinheiro!”.
Então passei isso para o grupo, se sugeriu então que o pessoal que se formou no curso do consórcio da juventude se apropriasse do espaço então, que o grupo que deu certo, ficaria na oficina e já poderiam estar produzindo.
A Prof. Martina ainda insistiu algumas vezes, mas sem sucesso!
A reunião então se encaminhou mais ou menos assim, tentaríamos trazer pessoas das famílias dos trabalhadores e o pessoal do consórcio da juventude.






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