08/10/2009



















ARSELE.
Pedro Figueiredo
“Desce no bar do Alceu” disse o cobrador. Não encontrei o dito bar. Saí pela rua. Estava muito quente. Logo notei que o bairro era um canteiro de obras. Depois de muitos pedidos de informação, descobri onde ficava o “galpão da Terezinha”. Tratava-se de um galpão /depósito da antiga Rede Ferroviária.
Há dez anos atrás, apoiados pelo MNLM, logo depois da ocupação do complexo do entroncamento ferroviário por 300 famílias, as lideranças negociaram também a ocupação do galpão. Acordo feito com prefeitura, moradores e a empresa. Dentro do galpão, descobri Terezinha, sentada em meio a um monte de lixo. Separava algum tipo de material. Ao me apresentar, como da AVESOL, acolheu-me com alegria. Me ofereceu chimarrão e almoço. Optei pelo almoço. Almocei com mais dois jovens carrinheiros que chegaram naquele momento com uma montanha de material. Cardápio: Arroz, feijão, ossinho de porco e saladas do banco de alimentos. Falei de minha maratona e do objetivo de minha visita. Quis saber qual das associações que eu visitaria. Mostrei a lista. Protestou. Como aparece o nome da ASMAR e não aparece o nome da ARCELE? Falou-me da ASMAR, e seus privilégios na relação com a prefeitura. Segundo ela, ASMAR nunca quis participar dos encontros entre recicladores. Terezinha ajudou a fundar a ASMAR, o primeiro galpão de recicladores de Sta Maria, juntamente com Ir. Lurdes coordenadora do Projeto Esperança, entidade ligada a diocese. Como tarefa concreta do encontro nacional da CEBs.
Atualmente a relações dos três coletivos (Arcele, Arpes e Ascovi) com a ASMAR e Projeto Esperança são amistosas, pela influencia que o próprio Projeto tem. Muita coisa se ganha, quando se fala que tem relação com o Projeto Esperança.
ARCELE mantém uma forte parceria com a Universidade Franciscana. Através de um bolsa do CNPQ um grupo multidisciplinar de alunos e professores, acompanham crianças no turno inverso com aula de computação, recreação e lanches. A reconstrução do galpão deu-se através de uma parceria com a Fundação e Universidade-CNPQ, e Projeto Esperança. Durante um tempo ouve a intenção da criação de uma central de comercialização usando parte deste prédio, porém não efetivou-se. Grande parte do prédio é ocioso, e a comunidade tem muito desejo de estruturar uma creche naquele local. Parte deste galpão é ocupado por um “atravessador” autônomo com aparência de ser bastante forte..
Me impressionou a quantidade de maquinas, todas elas oriundas de vários tipos de parceria construídas ao longo dos anos. Duas prensas grandes, picotador, prensa para latas, elevador. Praticamente tudo ocioso.
Os jovens que almoçaram comigo, são presidiários em regime especial ou cumprem pena alternativa, um deles mora com a Terezinha. Tiveram a doação de uma cozinha do Fome Zero e as obras de infra-estrutura existente na comunidade, são recursos oriundos do PAC.
Não recebem carga da coleta pública, todo o lixo é trazido por carrinheiros. A informação que tive que mais de 20 trabalhadores fazem parte da associação, por lá passaram 12 pessoas durante o tempo que lá estive. Não entendo como sobrevivem daquela atividade, diante da pouca quantidade de material. A quantidade de material é muito pequena.
Dona Terezinha conhecia o pessoal da ASCOVI e os demais coletivos que eu visitaria. Depois de um telefonema de chegou um motoboy para me levar a ARPES – Associação de Recicladores Por do Sol. Já no início da
conversa me dei conta que era um dirigente. Possuidor de um linguajar militante, explanou-me história das três ocupações. Depois de muita conversa, entendi, que os três galpões fazem parte da Rede animada pela AVESOL, com uma concepção de integração aos vários movimentos sociais populares, coordenado pelo MNLM. Conheci a ocupação de Santa Marta, segundo ele a maior ocupação organizada da América Latina. 27 mil moradores. Hoje este lugar abriga uma gigantesca praça, também obra do governo federal. Segundo meu gentil cicerone foi uma luta muito grande garantir este espaço livre sem ser ocupado por moradias. O MNLM teve um candidato a vereador que não se elegeu, fruto de um debate nacional do movimento. Os galpões visitados apoiaram este candidato.
Anotações:
- Muita máquina sem utilidade
– Pensei se vendê-las em vista da criação da creche não seria uma alternativa.
- Pouco material. Quase sou levado a pensar que o que vale ali, é o turno inverso e o almoço diário.
- Fazem parte de uma rede. Não estão isolados.

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