16/03/2009
Tem que começar do zero. Na primeira tentativa o computador me traiu, e perdi vinte e cinco páginas...
É uma montanha de lixo. Minha primeira sensação foi de desânimo tanto minha como das pessoas. Muito sem jeito, arrumaram luvas para mim, advertindo-me que não se pode de jeito nenhum trabalhar sem elas. Troquei a roupa num banheiro sem ventilação, escuro e com cheiro horrível. Uma telha quebrada molha tudo, tenho a impressão que à muitos anos. Fui prá mesa, e comecei a depender totalmente das mulheres que me faziam companhia. Elas realmente entende de toda a variedade de material existente. É incrível a variedade. O meu primeiro desejo foi de começar a juntar tudo aquilo que eu achava interessante. Logo fui notando que seria impossível, pois eram muitas coisa interessante que aparecia.
Noto que as reuniões do Cechim não funciona. Ele vem de vez em quando no galpão. Ele desconhece absolutamente o cotidiano do grupo, (não sei se dá para chamar de grupo). Existem dinâmicas cotidianas próprias, que se desenvolvem nas entrelinhas da convivência. Os conflitos nascem daí. Os subgrupos surgem rapidamente, como também rapidamente eles se movimentam. Uma família domina todas as atividade do galpão. Os outros pequenos grupos, ora se aliam com uns, ora com outros...
Se cada assessor, professor, educador fizesse sua parte?! O nosso papel nestes coletivos são fundamentais. O novo mundo é sim possível a partir do momento que me decido a ter novas práticas. O desafio é fazer um discussão nova sobre o papel novo do Educador popular para estes novos tempos. As vezes fico pensando: será que não estamos lidando com ferramentas obsoletas para realidade absolutamente novas? As pessoas se submetem a qualquer coisa. Duas pessoas passaram hoje no galpão pedindo trabalho. Ontem acho que outras duas, uma delas chorou na minha frente dizendo que as três crianças não tinham o que comer, deu um problema no fome zero e ela não recebeu o dinheiro no banco.
Hoje aconteceu um negócio incrível. Brigaram por causa da lingüiça que sumiu da geladeira. Nestes dias ainda não conseguimos realizar nosso sonho de ter almoço no Profetas. Falta tudo aqui. Existe o fogão, mas tem os queimadores, as panelas foram levadas, não se sabe se foram levadas para venda como alumínio, ou se simplesmente foram roubadas. Tem muita barata por toda a parte, até dentro da geladeira, tudo é barata. Eu nunca tinha visto tantas, elas são pequeníssimas.
A montanha de lixo podre aos poucos vai descendo. Estou vivendo a nova experiência de reciclar. Ficar junto deste novo tipo de trabalhadores. A novidade para mim é trabalhar com uma atividade que fazem dela um meio de sobrevivência. Sempre meu trabalho foi de mobilizar, fazer articulação política. Agora não, tenho que negociar preço, fazer controle da produção, além de sentir o cheira do lixo podre. Se acha de tudo nele. É muito comum encontrar ratos mortos. Não imagino porque que eles morrem, pois ninguém colocou veneno. Na mesa se consegue conversar muito pouco, a música que eles escutam é o chamado “pancadão” uma coisa barulhenta, quando chega ao fim da tarde a gente está cansado. É alta de mais. Noto a todo momento que as oito mulheres que trabalham tem vícios que foram sendo adquiridos no quotidiano da vida do galpão. Elas saem a hora que querem da mesa de trabalho, fumam, tomam águas, vão ao banheiro. Tenho uma tendência a ficar quieto. Me perco em minhas reflexões. Pensando nas possibilidades de alternativas, etc.
Já começo a me dar conta que o coração do galpão está nas mesas, e na agilidade que as trabalhadoras possuem no trabalho de triagem. Se elas tiverem lixo na mesa, se produz, ao contrário o volume triado a baixo. O chamado volante, ou bamboneiro também é fundamental. A produção também depende de sua agilidade. Não sei identificar o que é mais cansativo. Pois ficar de pé 4 horas seguido é uma atividade exaustiva.
Os trabalhadores chegam muito tarde. Muito pouca disciplina. Eles tem uma “tolerância” de 15 min., claro todos chegam no limite dos 15 min. A família do Ge dá o tom para o galpão. Se trabalha somente na parte da tarde e com o horário de verão solta-se as 19.00hs. Hoje faltou o bamboneiro eu assumi o posto. Não é um serviço muito cansativo, mas exige agilidade. Tem que juntar o lixo que estar solto, para depois distribuir nas mesas. É um trabalho dobrado. O desenho do galpão é dos primeiros galpões do estado, foi a partir das limitações do profetas que foram sendo pensadas outra alternativas. Minha coluna se recente, mesmo porque o tempo estava para chover hoje.
Muitas crentes no galpão, acho que maioria. Com elas é bom trabalhar. Elas são obedientes, solícitas. Nada questionam. Estão sempre a repetir “o pastor falou” ou “falei com a mulher do pastor”. Todo é sujo neste galpão. Todas as baratas do mundo vieram morar aqui, porque aqui é o lugar delas. A cozinha é uma tragédia. O fogão, a geladeira, tudo está infestado por elas. O galpão é a extensão da casa dos trabalhadores, noto quando trazem sobras da janta para comerem no galpão. Não noto nenhuma atitude de colaboração na limpeza dos espaços comuns. Pelo contrário, notei ontem que todo o lixo produzido pelos trabalhadores é jogado pela janela da cozinha. A família do Ge me chateia, eles comandam tudo, dão o tom para o trabalho. As vezes perece que seria melhor instalar um posto de assistência social dentro do galpão. Não existe um ambiente de trabalho de empresa.
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Um comentário:
Grande Fuão! Estou acompanhando com entusiasmo essa tua iniciativa. Grande abraço!
Tiago Cargnin (Rubem Berta)
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